A mãe ficou envergonhada quando o filho gritou no shopping center por um brinquedo que ela disse: não! O pai reclama que o filho adolescente volta tarde para casa e não se importa com nada. Os brinquedos nunca são guardados após a criança brincar, “obrigando” a mãe a deixar tudo em ordem. Os pais são chamados na escola devido à indisciplina do filho. Essas são apenas algumas das queixas dos pais sobre a falta de limites dos filhos.
Colocar limites, ou disciplina é a arte de ensinar os comportamentos apropriados às crianças. Não é uma tarefa fácil, porém é possível. Mas o que aconteceu durante as últimas décadas para as avós falarem: “no meu tempo era tudo diferente”?
O mundo realmente mudou. Com a ida da mulher ao mercado de trabalho a dinâmica familiar sofreu modificações significativas. Exigências do mundo atual obrigam os pais a trabalharem cada vez mais para garantir o bem estar dos filhos. No entanto, a ausência provoca em muitos o sentimento de culpa. Na tentativa compensar as exaustivas horas de trabalho, os pais não conseguem dizer “não” aos seus filhos, permitindo-lhes que façam tudo o que quiserem.
O resultado desse processo é a perda de autoridade dos pais e a falta de limites dos filhos. Os limites são importantes na vida da criança, pois eles funcionam como uma rede de segurança. As relações humanas são permeadas de regras de convivência em grupo. Seja na família, no trabalho e nas situações sociais sempre existem “normas” que asseguram os direito e deveres de todos.
A criança que não possui uma disciplina regular dentro de casa, além de provocar a impaciência nos pais, também terá dificuldades em seguir regras em outros contextos. Por exemplo, a necessidade em se manter sempre no domínio das situações pode gerar dificuldades importantes para a criança se inserir no grupo de amigos. Como ela vai conseguir dividir situações com os amigos se não seguir, por exemplo, as regras de um jogo? No futuro, quando adulta, como poderá ser bem sucedida se não conseguir minimamente respeitar as normas de uma empresa? Qual será a qualidade das relações afetivas de uma pessoa que não consegue manter relacionamentos duradouros porque não aceita as demandas do outro e do mundo?
Enfim, quem não respeita regras pode acabar sendo “punido” com a não aceitação dos outros. Assim, a principal conseqüência da falta de limites desde a infância é a dificuldade em construir vínculos duradouros e estáveis, o que poderia favorecer o isolamento e a baixa auto-estima.
Durante a nossa vida, recebemos muitos “nãos” como resposta a algo que queremos. O brinquedo que nossos pais NÃO puderam nos dar, o namorado (a) que NÃO quis dar continuidade no relacionamento, o emprego que NÃO conseguimos conquistar.
Ensinar regras para a criança leva tempo e exige a compreensão dos pais. Observar e diferenciar birras de reais necessidades da criança favorece a segurança na relação não somente com seus pais, mas na construção dos vínculos com a sociedade. É muito importante ser explícito com o filho, mostrando-lhe exatamente o que se espera dele, o que pode e o que não pode ser feito, e quais serão as conseqüências de suas atitudes. No entanto, vale sempre lembrar que violência e punições severas prejudicam o desenvolvimento da criança.
Concluindo, limite é antes de mais nada um fator fundamental para a formação da saúde mental da criança e do futuro adulto.
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