Estimular o desenvolvimento é bom. Mas exigir que sejam como nós queremos ou que façam coisas para as quais não estão biológica e psicologicamente preparados é pura e simplesmente um erro.
Cada bebé tem a sua maneira de ser e o seu leque de respostas aos diversos estímulos do mundo que veio encontrar, após muitos meses de vida num ambiente agradavelmente quente, relativamente insonorizado e sem demasiada luz. Não se pode esperar que um irmão seja igual a outro irmão, muito menos que o vosso bebé responda da mesma forma que os filhos dos vizinhos, dos amigos ou dos colegas. As comparações entre crianças têm geralmente um triste fim...
A descoberta do bebé é um desafio estimulante e agradável para cada casal, com a certeza, porém, de que os bebés humanos sabem fazer muitas mais coisas do que simplesmente comer e dormir. É só uma questão de lhe dar as oportunidades para o demonstrar. E apreciar cada dia, contemplando-o e observando-o.
Nem sempre as circunstâncias proporcionam que a criança mostre o seu «melhor» ou seja, pode estar inibida pela presença de estranhos, cansada, com calor, com fome, com a fralda molhada, com sono; pode pura e simplesmente não lhe apetecer fazer «tetés» ou «tem-tens».
Estimular o desenvolvimento é bom. Facilitar todas as oportunidades às crianças para que se desenvolvam, é óptimo. Mas exigir que sejam como nós queremos ou que façam coisas para as quais não estão biológica e psicologicamente preparadas é pura e simplesmente um erro.
Por outro lado, há que não esquecer que a criança tem de gerir o controlo motor, conhecimentos cognitivos, memória, autonomia, adaptação psicológica, linguagem, relação com as pessoas e com o espaço e objectos... tanta coisa, mais comer e dormir... e brincar. É pois natural que não consiga dar atenção a tudo ao mesmo tempo, deixando de vez em quando algumas coisas em stand by e retomando-as dias ou semanas depois.
De qualquer modo, é importante que os pais e educadores veiculem todas as suspeitas, quando sentem que algo está mal com a criança. A detecção precoce das perturbações do desenvolvimento é essencial para que se consiga tirar o maior partido do potencial que todas as crianças têm, nomeadamente as que, à partida, parecem ter mais problemas e menos perspectivas de um desenvolvimento inteiramente normal.
Deixamos aqui referências a algumas das principais etapas do desenvolvimento, sem prejuízo de existirem muito mais áreas que os pais podem observar.
SorrirO primeiro sorriso intencional aparece cerca das seis semanas, para os pais (para os outros é um pouco depois). Antes disso há sorrisos esporádicos que se crê serem mais aleatórios do que correspondendo a vontade. É fácil perceber quando um sorriso é intencional: não é apenas a boca que se abre; os olhos brilham, o corpo agita-se e o bebé irradia felicidade. Quando nos rimos para eles, precisam de um tempo de latência antes de nos devolverem o sorriso, e podem, por variadíssimas razões, não querer retribuir. Estão no seu direito.
AndarAndar é um aspecto fisiológico, ou seja, depende de factores pessoais e ambientais, e tem o seu próprio timing. Qualquer tentativa de acelerar este processo pode ser contraproducente. A transição para a posição bípede, associada ao início da marcha, ainda preocupa os pais, mas na maioria das vezes sem qualquer justificação.
Dizem os livros que «a criança começa a andar ao ano» e realmente a maioria das crianças dá os seus primeiros passos por volta dos doze meses. Há, no entanto, umas que são mais precoces, outras mais tardias, sem que isto esteja associado a algum problema. Até aos 18 meses pode ser normal não andar.
Para uma criança começar a andar é necessária a conjugação de vários factores: se já estiver biologicamente preparada, se sentir vontade e necessidade, se souber que pode andar sem ter medo de cair e se houver um movimento familiar à sua volta a incitá-la, sem causar stresse, então a criança começa de certeza a andar. A preocupação do «não-andar», por parte dos pais, tem a ver essencialmente com o receio (natural) que o bebé tenha algum problema; por outro o desejo de mostrar os filhos à sociedade.
A maioria das crianças que não anda até aos 18 meses é perfeitamente saudável e o facto não corresponde a nenhum problema. Os sinais de alarme relativamente ao desenvolvimento infantil deverão ser vistos numa perspectiva global: se a criança não anda, não fala, já teve atrasos noutros parâmetros, enfim, se o seu desenvolvimento global está perturbado, então já é mais provável – repito, provável, – que exista um problema.
Há outros factores que convém ter em linha de conta: por exemplo, uma criança que gatinha e chega a todo o lado não ter grande motivação para começar a andar: «para que é que me vou dar ao trabalho de aprender uma coisa nova se esta me chega?» – pensa o bebé com os seus botões. Outros, por exemplo, que se põem em pé muito cedo e não gostam de se arrastar pelo chão, rapidamente sentem vontade de dar os primeiros passos.
VerOs bebés vêem e bem. Ao contrário do que se pensava há alguns anos, o bebé recém-nascido vê... e vê bastante bem, especialmente a luz intensa e os objectos em movimento. O seu sistema visual ainda está imaturo, é verdade, e os órgãos da visão sofrem melhorias durante os primeiros dois anos de vida, até atingirem a capacidade de visão do adulto jovem. Pois porque o adulto «menos jovem» já começa a ter diminuição da suas potencialidades visuais.
Desde o dia em que nasce, o bebé consegue fixar a visão e observar objectos e, muito especialmente, a face humana. É claro que faz isto por períodos de tempo curtos, cansando-se com facilidade. Mas enquanto o faz, fá-lo com muita atenção, verdadeiramente interessado no que se está a passar. A teoria de que os bebés não viam está definitivamente ultrapassada.
Quando se estimula o aparelho visual com uma luz, por exemplo com uma lanterna, o bebé pestaneja e as pupilas fecham-se, em sinal de defesa. Aos dois dias de vida, o bebé já prefere objectos coloridos e a face humana (este é um ponto quanto a mim muito importante) em vez de imagens brancas e objectos inanimados.
Por volta dos 1-2 meses o bebé já segue os objectos com o olhar, primeiro no plano horizontal, depois no vertical e mais tarde mesmo no plano oblíquo. O campo de visão não é tão alargado como na criança maior mas já permite abarcar uma boa parte do seu universo próximo. É também a partir desta idade que a criança segue com mais segurança, e por períodos de tempo maiores, um brinquedo que lhe seja apresentado e deslocado vagarosamente no seu campo de visão. Por volta dos 2-3 meses, aliás, o bebé já revela uma grande excitação quando vê brinquedos e, até às vinte semanas, tentará coordenar visão com os movimentos da mão, com vista a agarrar o que os seus olhos já vêem e o que a sua vontade desejaria ter na mão.
Por volta dos 2-4 meses o bebé entretém-se com as mãos, na linha média do corpo, e brinca com elas durante bastante tempo, quando está deitado de costas. É nesta altura que os lactentes demonstram um grande entusiasmo quando vêem o peito ou os alimentos. Há também um grande interesse por parte do bebé quando o mudam de um lado para o outro, de uma habitação para a outra. O ambiente começa a cativar a sua atenção visual.
Aos 4 meses já o bebé vê a cores, e a partir dos 6 meses aumenta a curiosidade em descobrir o mundo. A criança já é capaz de ver com pormenor objectos distantes, distingue facilmente os pais, irmãos e pessoas estranhas (começando, a partir dos 9 meses, a evidenciar uma certa aversão a estas últimas).
As mãos já se articulam nos seus movimentos finos, podendo pegar nos objectos, transferi-los de uma mão para a outra, apontar com o indicador (e fazer exigências) e procurar objectos que, por exemplo, caem ou desaparecem repentinamente do campo visual – o bebé sabe que «há coisas atrás das coisas» (e tentará descobri-las).
Após o ano já há percepção dos objectos a duas dimensões e, mais tarde, a noção da profundidade. Um aspecto importante é que a visão não funciona isolada, pelo contrário, é um sentido intimamente ligado aos restantes, muito especialmente à audição e aos movimentos finos. A conjugação destas extraordinárias capacidades, tantas vezes subestimadas, permite praticar o que é, talvez, uma das maiores capacidades do ser humano – comunicar. A comunicação com o mundo, processo no qual a visão desempenha um papel fundamental, começa no bebé mesmo antes de nascer e prolonga-se até à morte. Os êxitos e insucessos, vitórias e derrotas, satisfação e frustração dependem muito da qualidade da nossa comunicação com o mundo, não só o animal – entre o qual em grande destaque o mundo humano –, mas também o vegetal e mineral.
OuvirÉ através do som que se comunica, se aprende o mundo e a pessoa se relaciona; por outro lado, para o desenvolvimento da linguagem verbal é necessário ouvir bem a gama de frequências que são produzidas e o encadeamento que forma as palavras e as frases. A baixa de audição, quando bilateral e prolongada, pode afectar significativamente o bem-estar da criança, nos aspectos emocional, educativo, social e linguístico, interferindo na aquisição normal da linguagem e na integração social.
Falar
Desde o primeiro dia que o bebé se expressa através da comunicação verbal, mesmo para lá do choro. E desde antes de nascer que o bebé ouve esta estranhíssima mas fascinante coisa que é a voz humana e as palavras dos vários idiomas – chorará na língua materna! Ouve tons e sons, timbres e melodias. Ouve vozes cansadas, felizes, agressivas e tranquilas. E percebe que, um dia, terá que verbalizar e falar, como forma de expressar
ideias, razões, argumentos e sentimentos. Mas só quando alguns factores se tornarem prementes: a necessidade, para obter «coisas»; a comunicação para contar «coisas», e o gosto de falar por falar, embalando-se na melodia das palavras, como se de uma música se tratasse.
A linguagem verbal, ou fala, é um fenómeno complexo. Muito complexo. Para dizer uma coisa temos que pensar nela, arquitectar a frase, escolher as palavras, emiti-las. Temos que recorrer a símbolos como expressão do pensamento. Tudo isto numa fracção de segundos. Para expressar emoções, sentimentos,
ideias, valores, factos e pensamentos.
À medida que ouve, fala, e quanto mais fala, mais dá atenção ao ouvir, mesmo que a língua seja «estrangeirada». Até aos 2 meses o bebé aprende a arrulhar, para chamar a atenção dos pais, e é capaz de manter uma «conversa», se os pais forem respondendo, por um tempo relativamente grande. Balbucia um conjunto de sons básicos. Entre os 2 e 6 meses ri, em resposta a palavras e frases de que gosta e de que entende o sentimento, e chora se for o contrário.
A partir dos 6 meses já palra – maa, daa, paa – e experimenta a voz, os sons que emite, e o efeito que eles têm. É quando começa a usar os «rrrr» e os gritos para ver se «assusta» os pais com essas expressões de agressividade. E dia após dia grava tudo o que ouviu. Da maneira que ouviu. Organiza dicionários, gramáticas e prontuários, dentro da cabeça. Mas só carregará no botão do play quando for necessário, gostoso e forçoso – não quando os pais ou os avós querem.
As primeiras palavras, com sentido, são geralmente ditas cerca do ano de idade. As suas primeiras palavras: se disser papa, a mãe dirá, ironicamente, que ele quer papa. Falem com o vosso filho, escutem-no. Dêem-lhe tempo e peçam-lhe tempo. Transformem esta aprendizagem em algo estimulante e todos os dias diferente. É bom, podem crer.
Os rapazes são mais «atrasados» do que as raparigas, no que respeita à linguagem, embora apenas em termos populacionais.
Quando se fala com um bebé, seja em que idade for durante este primeiro ano de vida, há que dar tempo para ele pensar e responder, mesmo que por trejeitos ou sons díspares. O «paiês», como chamam alguns especialistas ao dialecto que se estabelece entre a criança e os pais, é uma linguagem codificada, só acessível aos pais e às crianças.
Cantar é muito importante – os bebés adoram música –, e gostam de ouvir as mães e os pais. A musicalidade das palavras torna-as doces e os bebés entendem. E assim, dia após dia, vão interiorizando as palavras como tradução dos objectos e das situações.
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