sexta-feira, 25 de junho de 2010

Sorrir, andar, ver, ouvir, falar...



Estimular o desenvolvimento é bom. Mas exigir que sejam como nós queremos ou que façam coisas para as quais não estão biológica e psicologicamente preparados é pura e simplesmente um erro.
Cada bebé tem a sua maneira de ser e o seu leque de respostas aos diversos estímulos do mundo que veio encontrar, após muitos meses de vida num ambiente agradavelmente quente, relativamente insonorizado e sem demasiada luz. Não se pode esperar que um irmão seja igual a outro irmão, muito menos que o vosso bebé responda da mesma forma que os filhos dos vizinhos, dos amigos ou dos colegas. As comparações entre crianças têm geralmente um triste fim...
A descoberta do bebé é um desafio estimulante e agradável para cada casal, com a certeza, porém, de que os bebés humanos sabem fazer muitas mais coisas do que simplesmente comer e dormir. É só uma questão de lhe dar as oportunidades para o demonstrar. E apreciar cada dia, contemplando-o e observando-o.
Nem sempre as circunstâncias proporcionam que a criança mostre o seu «melhor» ou seja, pode estar inibida pela presença de estranhos, cansada, com calor, com fome, com a fralda molhada, com sono; pode pura e simplesmente não lhe apetecer fazer «tetés» ou «tem-tens».
Estimular o desenvolvimento é bom. Facilitar todas as oportunidades às crianças para que se desenvolvam, é óptimo. Mas exigir que sejam como nós queremos ou que façam coisas para as quais não estão biológica e psicologicamente preparadas é pura e simplesmente um erro.
Por outro lado, há que não esquecer que a criança tem de gerir o controlo motor, conhecimentos cognitivos, memória, autonomia, adaptação psicológica, linguagem, relação com as pessoas e com o espaço e objectos... tanta coisa, mais comer e dormir... e brincar. É pois natural que não consiga dar atenção a tudo ao mesmo tempo, deixando de vez em quando algumas coisas em stand by e retomando-as dias ou semanas depois.
De qualquer modo, é importante que os pais e educadores veiculem todas as suspeitas, quando sentem que algo está mal com a criança. A detecção precoce das perturbações do desenvolvimento é essencial para que se consiga tirar o maior partido do potencial que todas as crianças têm, nomeadamente as que, à partida, parecem ter mais problemas e menos perspectivas de um desenvolvimento inteiramente normal.
Deixamos aqui referências a algumas das principais etapas do desenvolvimento, sem prejuízo de existirem muito mais áreas que os pais podem observar.
Sorrir
O primeiro sorriso intencional aparece cerca das seis semanas, para os pais (para os outros é um pouco depois). Antes disso há sorrisos esporádicos que se crê serem mais aleatórios do que correspondendo a vontade. É fácil perceber quando um sorriso é intencional: não é apenas a boca que se abre; os olhos brilham, o corpo agita-se e o bebé irradia felicidade. Quando nos rimos para eles, precisam de um tempo de latência antes de nos devolverem o sorriso, e podem, por variadíssimas razões, não querer retribuir. Estão no seu direito.
Andar
Andar é um aspecto fisiológico, ou seja, depende de factores pessoais e ambientais, e tem o seu próprio timing. Qualquer tentativa de acelerar este processo pode ser contraproducente. A transição para a posição bípede, associada ao início da marcha, ainda preocupa os pais, mas na maioria das vezes sem qualquer justificação.
Dizem os livros que «a criança começa a andar ao ano» e realmente a maioria das crianças dá os seus primeiros passos por volta dos doze meses. Há, no entanto, umas que são mais precoces, outras mais tardias, sem que isto esteja associado a algum problema. Até aos 18 meses pode ser normal não andar.
Para uma criança começar a andar é necessária a conjugação de vários factores: se já estiver biologicamente preparada, se sentir vontade e necessidade, se souber que pode andar sem ter medo de cair e se houver um movimento familiar à sua volta a incitá-la, sem causar stresse, então a criança começa de certeza a andar. A preocupação do «não-andar», por parte dos pais, tem a ver essencialmente com o receio (natural) que o bebé tenha algum problema; por outro o desejo de mostrar os filhos à sociedade.
A maioria das crianças que não anda até aos 18 meses é perfeitamente saudável e o facto não corresponde a nenhum problema. Os sinais de alarme relativamente ao desenvolvimento infantil deverão ser vistos numa perspectiva global: se a criança não anda, não fala, já teve atrasos noutros parâmetros, enfim, se o seu desenvolvimento global está perturbado, então já é mais provável – repito, provável, – que exista um problema.
Há outros factores que convém ter em linha de conta: por exemplo, uma criança que gatinha e chega a todo o lado não ter grande motivação para começar a andar: «para que é que me vou dar ao trabalho de aprender uma coisa nova se esta me chega?» – pensa o bebé com os seus botões. Outros, por exemplo, que se põem em pé muito cedo e não gostam de se arrastar pelo chão, rapidamente sentem vontade de dar os primeiros passos.
Ver
Os bebés vêem e bem. Ao contrário do que se pensava há alguns anos, o bebé recém-nascido vê... e vê bastante bem, especialmente a luz intensa e os objectos em movimento. O seu sistema visual ainda está imaturo, é verdade, e os órgãos da visão sofrem melhorias durante os primeiros dois anos de vida, até atingirem a capacidade de visão do adulto jovem. Pois porque o adulto «menos jovem» já começa a ter diminuição da suas potencialidades visuais.
Desde o dia em que nasce, o bebé consegue fixar a visão e observar objectos e, muito especialmente, a face humana. É claro que faz isto por períodos de tempo curtos, cansando-se com facilidade. Mas enquanto o faz, fá-lo com muita atenção, verdadeiramente interessado no que se está a passar. A teoria de que os bebés não viam está definitivamente ultrapassada.
Quando se estimula o aparelho visual com uma luz, por exemplo com uma lanterna, o bebé pestaneja e as pupilas fecham-se, em sinal de defesa. Aos dois dias de vida, o bebé já prefere objectos coloridos e a face humana (este é um ponto quanto a mim muito importante) em vez de imagens brancas e objectos inanimados.
Por volta dos 1-2 meses o bebé já segue os objectos com o olhar, primeiro no plano horizontal, depois no vertical e mais tarde mesmo no plano oblíquo. O campo de visão não é tão alargado como na criança maior mas já permite abarcar uma boa parte do seu universo próximo. É também a partir desta idade que a criança segue com mais segurança, e por períodos de tempo maiores, um brinquedo que lhe seja apresentado e deslocado vagarosamente no seu campo de visão. Por volta dos 2-3 meses, aliás, o bebé já revela uma grande excitação quando vê brinquedos e, até às vinte semanas, tentará coordenar visão com os movimentos da mão, com vista a agarrar o que os seus olhos já vêem e o que a sua vontade desejaria ter na mão.
Por volta dos 2-4 meses o bebé entretém-se com as mãos, na linha média do corpo, e brinca com elas durante bastante tempo, quando está deitado de costas. É nesta altura que os lactentes demonstram um grande entusiasmo quando vêem o peito ou os alimentos. Há também um grande interesse por parte do bebé quando o mudam de um lado para o outro, de uma habitação para a outra. O ambiente começa a cativar a sua atenção visual.
Aos 4 meses já o bebé vê a cores, e a partir dos 6 meses aumenta a curiosidade em descobrir o mundo. A criança já é capaz de ver com pormenor objectos distantes, distingue facilmente os pais, irmãos e pessoas estranhas (começando, a partir dos 9 meses, a evidenciar uma certa aversão a estas últimas).
As mãos já se articulam nos seus movimentos finos, podendo pegar nos objectos, transferi-los de uma mão para a outra, apontar com o indicador (e fazer exigências) e procurar objectos que, por exemplo, caem ou desaparecem repentinamente do campo visual – o bebé sabe que «há coisas atrás das coisas» (e tentará descobri-las).
Após o ano já há percepção dos objectos a duas dimensões e, mais tarde, a noção da profundidade. Um aspecto importante é que a visão não funciona isolada, pelo contrário, é um sentido intimamente ligado aos restantes, muito especialmente à audição e aos movimentos finos. A conjugação destas extraordinárias capacidades, tantas vezes subestimadas, permite praticar o que é, talvez, uma das maiores capacidades do ser humano – comunicar. A comunicação com o mundo, processo no qual a visão desempenha um papel fundamental, começa no bebé mesmo antes de nascer e prolonga-se até à morte. Os êxitos e insucessos, vitórias e derrotas, satisfação e frustração dependem muito da qualidade da nossa comunicação com o mundo, não só o animal – entre o qual em grande destaque o mundo humano –, mas também o vegetal e mineral.
Ouvir
É através do som que se comunica, se aprende o mundo e a pessoa se relaciona; por outro lado, para o desenvolvimento da linguagem verbal é necessário ouvir bem a gama de frequências que são produzidas e o encadeamento que forma as palavras e as frases. A baixa de audição, quando bilateral e prolongada, pode afectar significativamente o bem-estar da criança, nos aspectos emocional, educativo, social e linguístico, interferindo na aquisição normal da linguagem e na integração social.
Falar
Desde o primeiro dia que o bebé se expressa através da comunicação verbal, mesmo para lá do choro. E desde antes de nascer que o bebé ouve esta estranhíssima mas fascinante coisa que é a voz humana e as palavras dos vários idiomas – chorará na língua materna! Ouve tons e sons, timbres e melodias. Ouve vozes cansadas, felizes, agressivas e tranquilas. E percebe que, um dia, terá que verbalizar e falar, como forma de expressar ideias, razões, argumentos e sentimentos. Mas só quando alguns factores se tornarem prementes: a necessidade, para obter «coisas»; a comunicação para contar «coisas», e o gosto de falar por falar, embalando-se na melodia das palavras, como se de uma música se tratasse.
A linguagem verbal, ou fala, é um fenómeno complexo. Muito complexo. Para dizer uma coisa temos que pensar nela, arquitectar a frase, escolher as palavras, emiti-las. Temos que recorrer a símbolos como expressão do pensamento. Tudo isto numa fracção de segundos. Para expressar emoções, sentimentos, ideias, valores, factos e pensamentos.
À medida que ouve, fala, e quanto mais fala, mais dá atenção ao ouvir, mesmo que a língua seja «estrangeirada». Até aos 2 meses o bebé aprende a arrulhar, para chamar a atenção dos pais, e é capaz de manter uma «conversa», se os pais forem respondendo, por um tempo relativamente grande. Balbucia um conjunto de sons básicos. Entre os 2 e 6 meses ri, em resposta a palavras e frases de que gosta e de que entende o sentimento, e chora se for o contrário.
A partir dos 6 meses já palra – maa, daa, paa – e experimenta a voz, os sons que emite, e o efeito que eles têm. É quando começa a usar os «rrrr» e os gritos para ver se «assusta» os pais com essas expressões de agressividade. E dia após dia grava tudo o que ouviu. Da maneira que ouviu. Organiza dicionários, gramáticas e prontuários, dentro da cabeça. Mas só carregará no botão do play quando for necessário, gostoso e forçoso – não quando os pais ou os avós querem.
As primeiras palavras, com sentido, são geralmente ditas cerca do ano de idade. As suas primeiras palavras: se disser papa, a mãe dirá, ironicamente, que ele quer papa. Falem com o vosso filho, escutem-no. Dêem-lhe tempo e peçam-lhe tempo. Transformem esta aprendizagem em algo estimulante e todos os dias diferente. É bom, podem crer.
Os rapazes são mais «atrasados» do que as raparigas, no que respeita à linguagem, embora apenas em termos populacionais.
Quando se fala com um bebé, seja em que idade for durante este primeiro ano de vida, há que dar tempo para ele pensar e responder, mesmo que por trejeitos ou sons díspares. O «paiês», como chamam alguns especialistas ao dialecto que se estabelece entre a criança e os pais, é uma linguagem codificada, só acessível aos pais e às crianças.
Cantar é muito importante – os bebés adoram música –, e gostam de ouvir as mães e os pais. A musicalidade das palavras torna-as doces e os bebés entendem. E assim, dia após dia, vão interiorizando as palavras como tradução dos objectos e das situações.
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